Algumas vezes escuto que artistas, poetas e escritores fazem arte porque não poderiam não fazer. Em parte concordo que ser artista é uma escolha não deliberada de articulação do mundo. Por outro lado, acredito que ser artista é uma atividade necessária e política; uma forma de criar não apenas imagens mas formas de vida, formas de mundo. Meus trabalhos são atravessados por alguns elementos principais: o peso, a leveza, a gravidade, o mar. Elementos esses que frequentemente aparecem, de forma sutil, como modo de pensar o ''eu'' diante do mundo e diante do ''outro''. Como artista, eu desenvolvo trabalhos que por vezes começam com uma palavra-conceito ou jogos de palavras, outras vezes são desencadeados por um pedaço de cidade que parece ignorado pelos transeuntes, algumas fotografias ou performances propõem uma tradução de sensações que me parecem relevantes e comuns nos dias de hoje, como a falta de comunicação, o peso do corpo que carregamos, a abertura ao outro, a fundação do eu. Uma preocupação que sempre tenho em relação ao meu trabalho é de não condicionar o espectador a uma interpretação única ou condição passiva, assim como muitos críticos de arte e artistas, acredito que todos deveriam ser artistas, criadores de mundos, articuladores de espaços. Neste termos, meu trabalho enquanto artista se constitui muitas vezes em mostrar um olhar e construir um sentido a partir de uma combinação de imagens e textos. Parte do meu processo ocorre em paralelo com a minha pesquisa de doutorado em Literatura onde investigo a poética e a política das quedas e dos levantes na literatura e nas artes visuais. Procedimento esse que tenta aproximar teoria e prática, pensamento crítico e pensamento imagético. Meu método é híbrido tanto conceitualmente, quando mistura palavras com paisagens, mas também no que se refere a técnicas ou suportes: as fichas catalográficas de pesquisa, o desenho, a pele, a aquarela, a imagem técnica, a instalação, a performance e a escrita acadêmica são tentativas de pensar a condição humana no contemporâneo, investidas em perceber a necessidade de abertura ao desconhecido que nos habita intimamente e ao outro para que assim possamos pensar outras formas de comunidade, de emaranhamentos que possam arriscar uma configuração sem centro, aberta e nômade.